Propaganda

A vida de Hani Rawass, de 26 anos, tem sido marcada por uma série de recomeços desde que precisou deixar a Síria há sete anos por causa da guerra civil que assola o país.

Primeiro a fuga da guerra, depois a busca por um espaço no Egito, a vinda para o Brasil, o aprendizado para trabalhar como marceneiro e, principalmente, do português.

Propaganda

Esta semana foi marcada por mais um recomeço: a conquista de um emprego com carteira assinada. Rawass e mais 11 refugiados foram contratados para trabalhar como cobradores de pedágio no trecho de Itaquaquecetuba da Rodovia Ayrton Senna.

Entre sírios, egípcios, iraquianos, marroquinos e venezuelanos, o sentimento de gratidão era comum ao conhecer o novo emprego.

“Agora a minha vida no Brasil começou de verdade. Eu estou muito feliz, quero fazer uma nova vida aqui. Eu quero fazer minha casa, minha família”, contou Rawass, que está há um ano e sete meses no Brasil.

Ao receber a sua carteira de trabalho assinada, com todos os direitos assegurados, ele relembrou sua jornada desde a decisão de deixar seu país.

“Sai da Síria por causa da guerra. Fiquei cinco anos no Egito e tinha um trabalho ruim lá. Decidi vir para o Brasil porque é melhor. Eu não falava português, só um pouco de inglês. Meu amigos novos é quem me ajudaram a aprender o português. Eu cheguei aqui e não tinha emprego. Uma pessoa me ajudou e me chamou para trabalhar, me ensinou como trabalhar como marceneiro.”

A seleção para as vagas aconteceu por meio de uma parceria da concessionária Ecopistas com três ONGs que fazem o acolhimento e orientam refugiados em Mogi das Cruzes.

Edelir Almeida, supervisora de sustentabilidade da Ecopistas, explica que o foco da seleção para a contratação de novos funcionários neste ano foram os refugiados.


O processo seletivo começou em 1° de novembro e terminou no último dia 13.

“Para nós foi uma satisfação muito grande em interagir com essas pessoas. São pessoas muito alegres e esforçadas. Nós percebemos durante o treinamento que eles cumpriam com o horário, chegavam de maneira antecipada, inclusive.”

Dos 15 participantes da seleção, 12 foram selecionados, sendo que nove irão trabalhar na Ecopistas e outros três foram recrutados para trabalhar na Ecovias.

Asmaa Mohamad Khaled, tem 24 anos e está no Brasil há três anos com a mãe e duas irmãs. O pai ainda vive no país em guerra. Ela está feliz com a oportunidade. “Os brasileiros ajudaram muito para aprender a língua e achar trabalho.”

Outro trabalhador que está animado com a oportunidade é Zaher, que está no Brasil há quatro anos. “Nós fizemos um passeio, uma festa pequena porque ficamos muito felizes com esse contrato. Todo mundo já perdeu parte da família lá, porque a guerra é difícil mesmo. Perdi meu cunhado, meu primo, meu pai faleceu lá e não consegui contato. Essas coisas são difíceis para nós refugiados. No Brasil queremos uma porta para abrir e prosseguir. O Brasil tem amor, o brasileiro tem bastante amor.”

O começo do recomeço

Antes do emprego, os refugiados foram acolhidos por ONGs de Mogi das Cruzes, incluindo a Missão AME. Basicamente, o trabalho é dividido em três etapas: socorro, integração e consolidação.

Os voluntários fazem visitas também às casas dos refugiados para prestar assistência.

Em atendimento direto, a ONG beneficia cerca de 35 refugiados. No trabalho social, eles participam de aulas de português por meio de uma parceria com o projeto Connection.

“A gente atende de acordo com a necessidade: alguns chegam vindo da guerra e precisam de casa para morar, alimentação básica. Agora, tem famílias e refugiados que já estão no outro nível, que estão aprendendo o idioma e a cultura brasileira que é muito diferente de determinados países. A dificuldade cultural é enorme também. Quando isso está estabelecido, a gente passa para um momento de recolocação ou colocação no mercado de trabalho e na oferta de cursos específicos”, conta Everton Ricardo Lopes Ribeiro, presidente da ONG Missão AME.

Tânia Abou Hala Florenzano é a professora de português que ajudou os refugiados com o idioma na ONG. Para ela, ver a conquista do trabalho dos seus alunos é uma realização também. “As aulas são engraçadas: enquanto a gente se diverte, eles aprendem. Eu me sinto privilegiada de estar proporcionando isso pra eles. O idioma é uma parte muito difícil para qualquer um que chega num país, principalmente em situação de refúgio. Eles são maravilhosos. Conquistar um emprego é uma etapa difícil e eles conseguiram com esforço e dedicação.”

Facebook Comments

Propaganda